
Eu não sou o futebol moderno_
Por Ketlin Cristine
Amigo, posso até parecer um tanto radical, mas é com tristeza que venho contar um fato que talvez muitos (ou todos) já saibam: o tal do futebol moderno está acabando com o nosso futebol brasileiro.
A paixão enlouquecedora de ir ao estádio de futebol ver seu time, de estar nas arquibancadas de concreto pulando e cantando, infelizmente está acabando. O futebol moderno chegou para ficar e consequentemente destruir corações. O que mais ouvimos em grupos de torcedores são as velhas e conhecidas frases: “Antigamente não tinham essas frescuras” e “ódio ao futebol moderno”. Aí você acaba se perguntando, mas por que tanto ódio? A resposta é bem simples, porque neste processo de modernização o que prevalece mesmo é a elitização, fazendo com que o torcedor de chinelo de dedo fique cada vez mais afastado dos estádios.
No “futebol antigo” os ingressos custavam em média R$30 e quem estava com fome podia saborear sem reclamar o famoso “pão com bife” ou a pipoca por no máximo R$3. Mas isso era o de menos, bonito mesmo eram as festas nas arquibancadas, essas pelas quais meus olhos já tanto brilharam. Eram bandeirões, bandeiras, sinalizadores fumaças com as cores do clube e lógico, todos em pé numa única e maravilhosa sincronia cantando e pulando os 90 minutos. Era de arrepiar.
Mas é claro, tudo que é bom não dura para sempre. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e os presidentes dos clubes tomaram posse dos times e de seus estádios e tudo mudou. Para o torcedor fanático essa nova modalidade de ver o futebol dói o coração. Não estou brincando. Quando se fala no “futebol moderno” a primeira coisa que vem na cabeça são os preços dos ingressos, que se você não se associar ao clube (que já é um valor absurdo por mês) tem a escolha de comprar ingressos avulsos, porém, pagando nada mais nada menos que R$150 por jogo. A questão da alimentação do estádio mudou muito também, até sorvetinho gourmet e a pipoca não saem por menos de R$6.
No quesito arquibancada, é triste de falar. Hoje nos deparamos com as novas Arenas, que não podemos negar, são belíssimas, onde todas possuem cadeiras e o sócio torcedor tem os nomes marcados nelas. Ai de você se sentar na cadeira do colega viu? O estádio acabou se tornando um teatro, uma cena lamentável de torcedores sentados batendo palma. Nesses novos estádios é um festival de “não pode”. E a festa? Fica por conta dos pequenos espaços destinados as torcidas organizadas, que agora, com poucos recursos fazem o que podem. Em alguns estádios já foram proibidas bandeiras, proibido tocar bateria, proibido cantar determinadas músicas e até acesso biométrico já existe. Bom, na questão de segurança podemos concordar com alguns aspectos, mas espera lá, antigamente não tinha nada disso e sobrevivemos.
Esse assunto é um tanto perturbador, tem gente que concorda e tem gente que não concorda. O fato é que o tal do futebol moderno está afastando cada vez mais o torcedor apaixonado dos estádios. Está deixando o futebol sem graça. Eu, por exemplo, não me alegro mais em ir ao estádio de futebol, se for para ver os jogos sentada eu vejo em casa e não gasto nada. O estádio acabou se tornando de tudo um pouco, é teatro, restaurante, estúdio de foto, casa de show, menos um estádio de futebol. Aquele futebol de antigamente que era movido por amor, hoje é movido pelo dinheiro, somente pelo dinheiro. Para o torcedor de verdade, frequentador de estádios que ganha R$800 por mês é difícil aceitar e entender toda essa mudança e preços absurdos. E seguimos assim, estádios vazios, sem cor, sem festas, sem a alma da torcida. Por isso meu amigo, quando eu digo que dói no coração, é porque dói mesmo.