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Uma torcedora que jamais serei_

Por Sara Erthal

Com as nostálgicas fotos do meu avô em mãos, pude sentir um pouco da vibração presente na Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Por alguns segundos me senti dentro do estádio e parte de uma torcida que jamais vira.

 

Nos retratos, o amor pelo time estampava em seus rostos o brilho e o sorriso da satisfação esportiva, o qual, de primeira vista era desconhecido por mim. Jamais encontrei nas torcidas atuais algo semelhante. Será o tempo responsável por essa mudança? Ou talvez as pessoas, o que mudou? Foi a globalização? Acho que não…

 

Hoje a individualidade e superioridade se tornou mais importante que a união coletiva de fato. Mas, de tudo que observava, o que mais invejava era a liberdade em estampar no peito o símbolo responsável pelas batidas aceleradas do coração: as camisas, sem dúvida, me causavam inveja.

 

Sempre que visto a minha, sou barrado por um discurso persistente da minha mãe. “Andar com isso não é seguro”, repete ela todos os dias. Por ser jovem, só me resta obedecer e tirar o manto sagrado. Na verdade, até entendo sua preocupação, mas se depender de minha mãe, nem com 100 anos poderei desfilar como torcedora.

 

Aí me pergunto: por que torcer se a graça de tudo está em representar o time de todas as formas possíveis? Vestir as cores do clube e desfilar com a bandeira sobre os ombros. Este é o dever do torcedor, para isso escolhemos um time e nos entregamos a ele.

 

O jogo é apenas detalhe. Para mim, o coletivo tem um peso muito maior nas lembranças e, com certeza geram amigos para uma vida toda. No entanto, lamentar nunca foi o suficiente para convencer minha mãe.

 

Diante disso, só me resta admirar as fotos e me convencer de que um dia haverá paz entre as torcidas. Me recordar de um tempo que o amor pelo esporte era superior à violência e os torcedores desfilavam felizes – sei que eram felizes – pelas ruas, sem terem o “azar” de encontrar um torcedor rival.

 

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